Produção que reutiliza o metal consome 95% menos energia
No México, um sucateiro acompanha na tela de computador e em tempo real as cotações do alumínio na Bolsa de Londres e faz seus negócios com base naquele preço. O alumínio, afinal, é uma commodity. No Brasil, conta Henio De Nicola, coordenador da comissão de reciclagem da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), o mercado não funciona exatamente assim. "Aqui, se leva em conta a cotação da Bolsa de Londres, a taxa de câmbio, porém mais de um terço do preço é formado pelas pressões entre oferta e demanda sentidas pelos grandes sucateiros, que são os intermediários desse mercado."
Com variações regionais, na semana passada, os grandes intermediários pagavam ao redor de R$ 1,70 para os catadores por quilo de sucata de alumínio - o equivalente a 75 latinhas - e cobravam da indústria, para revendê-lo, cerca de R$ 2,55 por quilo.
Só a coleta gerou US$ 600 milhões em 2008, último dado que a Abal divulgou. O que significa, nas contas de André Vilhena, diretor-executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), renda ao redor de um salário mínimo e meio para os catadores do Sudeste e de um salário para os do Nordeste.
O Brasil é benchmark na reciclagem de alumínio, diz Vilhena, embora exista muito ainda a ser feito pela melhoria das condições de trabalho no setor. Quando o Cempre - entidade mantida pela iniciativa privada que promove a reciclagem dentro do conceito de gerenciamento integrado do lixo - foi fundada em 1992 existiam duas cooperativas de catadores no país; hoje, são 25 mil. O processo de formação de cooperativas no setor, conta, está sendo incentivado, com a Medida Provisória 476, do fim de 2009, que concede crédito presumido de IPI para empresas que adquirirem sucata das cooperativas de catadores.
A renda obtida pela venda de sucata é um dos principais fatores do sucesso do mercado de reciclagem de alumínio no Brasil, que congrega catadores, cooperativas, sucateiros de pequeno, médio e grande portes, capazes de armazenar e distribuir a mercadoria para a indústria, além de algumas indústrias que mantêm estruturas próprias de coleta.
O alumínio feito com material reciclado consome apenas 5% da energia elétrica que seria gasta para produzir metal a partir da bauxita - o chamado alumínio primário. A reciclagem significa para a indústria a possibilidade de reduzir custos e poupar matéria-prima. Havia, por isso, uma razão econômica para que a reciclagem fosse desenvolvida no Brasil e virasse um importante mercado, antes mesmo de a sustentabilidade assumir o peso que hoje tem.
O mercado que começou por iniciativa da Latasa, primeira fabricante de latas de alumínio do Brasil, em 1991, ganhou densidade e cresceu. Nos primeiros cinco anos, foram coletadas 22 mil toneladas. Hoje, anualmente, o país recicla 400 mil toneladas de alumínio, as latinhas respondem pela metade disso.
O Brasil é campeão mundial em reciclagem de alumínio no segmento de latinhas - sucata nobre, composta de 97% de alumínio puro. Mas continua a ser um importador de sucata de alumínio, inclusive do México.
Em números redondos, o Brasil produz 1,5 milhão de toneladas de alumínio primário e exporta cerca de 900 mil toneladas. O consumo interno é de 1,1 milhão de toneladas e é atendido pelo alumínio primário destinado ao mercado interno, pelas 400 mil toneladas de alumínio reciclado e por 100 mil toneladas importadas. A importação acaba cumprindo uma dupla função: abastece o mercado interno, mas também regula preços. Logo, reciclar mais significa também reduzir a importação de sucata.
O Brasil é o terceiro maior reciclador do mundo quando se leva em conta todos os produtos feitos com o metal, atrás apenas da Áustria e do Reino Unido, segundo informa o Instituto Internacional do Alumínio (IAI, na sigla em inglês). Apesar de a reciclagem de latinhas ser mais visível, o país recicla também o alumínio que foi empregado em outros tipos de embalagens, na construção civil ou em componentes automotivos, por exemplo.
O processo depende, explica De Nicola, do ciclo de vida de cada produto. O ciclo da latinha é de 30 dias; o de um bloco de motor, 15 anos; do cabo de alumínio, de 20 anos a 25 anos. Por isso, é que as latinhas respondem por metade do volume reciclado anualmente no país.
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
13:32
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